O curioso fato de o portão de Moria ter inscrições em élfico
mostra que nem sempre os Anões foram inimigos dos Elfos, muito pelo
contrário: os famosos portões de Moria eram a principal forma de acesso
dos elfos que vinham do Oeste para visitar os salões de pedra, mas como
toda essa amizade chegou ao fim tem explicações em fatos tão antigos
quanto a própria Moria:
O primeiro passo dessa rixa começou antes que as duas raças
andassem pela terra: Eru Ilúvatar, o deus supremo da Terra-Média,
esperava o momento propício para despertar suas criações, os Elfos e
Homens, porém o poderoso artificie Aulë, impaciente com a demora de Eru
em despertar os seres, decidiu criar sua própria raça. Muito mais brutos
e resistentes, os anões foram feitos muito diferentes dos filhos de
Ilúvatar para melhor enfrentarem Morgoth, o antigo mestre de Sauron,
sendo assim fazer amizades não foi uma habilidade pensada por Aulë.
Descobrindo sua criação, Eru censurou Aulë, mas acabou permitindo a
existência dos Anões, recusando-se, no entanto, a consertar qualquer
erro que Aulë pudesse ter cometido quando criou os Anões:
“Muitas vezes haverá discórdia entre os teus e os meus, os filhos de minha adoção (anões) e os de minha escolha (elfos e homens).”
(Silmarillion, "De Aulë e Yavanna", pg. 41)
Despertados, os Elfos foram convidados a ir para Valinor, a terra
abençoada pelos Valar, mas o elfo Elwë permaneceu e nas cavernas de
Menegroth ele fundou seu reino onde muitos outros de sua raça vieram a
morar. Conhecendo os anões, Elwë os contratou para que construíssem e
ornamentassem os salões de Mengroth, pois os Elfos admiravam a
habilidade dos Anões e a beleza do reino de Thingol, como Elwë passou a
ser chamado, tornou-se célebre. Essa parceria iniciou o comercio entre
os anões e os Elfos da Terra-Média e tanto era o respeito e harmonia
entre as raças na Primeira Era que o elfo Finrod decidiu construir uma
fortaleza à imagem de Menegroth, novamente contando com o trabalho dos
Anões de Belegost e Nogrod, mas mesmo essa relação sendo nutrida por uma
grande admiração mútua, as suas diferenças nunca eram esquecidas, como
quando o elfo Caranthir encontrou os anões pela primeira vez:
“E foi assim que o povo de Caranthir deparou com os anões, que, depois do violento ataque de Morgoth e da chegada dos noldor, haviam parado de comercializar em Beleriand. Entretanto, embora os dois povos gostassem dos trabalhos habilidosos e sentissem muita vontade de aprender, não havia grande amor entre eles. Pois os anões eram reservados e suscetíveis, e Caranthir era arrogante e mal disfarçava seu desdém pela falta de beleza dos naugrim, exemplo seguido por seu povo.”
(Silmarillion, "Da Volta dos Noldor", pg. 136)
Mas até então a relação entre Elfos e Anões mantinha-se saudável
até a inimaginável tragédia pelo Colar dos Anões, tida como a principal
causa da desavença estre as duas raças:
O Nauglamír por Ted Nasmith |
O Nauglamír, o “Colar dos Anões”, foi feito no início da Primeira
Era pelos Anões de Belegost e Nogrod para o príncipe élfico Finrod,
usando as joias que ele trouxe consigo de Valinor. Depois de sua morte e
queda do reino de Norgothrond, o colar foi encontrado pelo amaldiçoado
Húrin e levado ao rei de Doriath, o elfo Thingol, dando início a grande
tragédia associada ao colar Nauglamír.
Ruínas de Doriath |
Thingol possuía uma das Silmarils, jóias criadas para armazenar a
luz da criação dos Deuses que iluminaram a terra nos Dias Antigos e
muito cobiçadas tanto por Elfos quanto pelo Senhor do Escuro. Ao receber
o magnífico colar Nauglamír das mãos de Húrin, Thingol não pensou duas
vezes e pediu aos artíficies de Nogrod que refizessem o colar engastando
nele a preciosa Silmaril. Vendo o belo trabalho de seus antepassados e a
brilhante joia, os Anões as cobiçaram, mas concordaram em realizar o
trabalho sem dizer palavra sobre isso. Terminado o colar, os Anões
usaram pretextos para se apoderar do Nauglamír, ao que o rei Thingol
recusou com palavras de desprezo, sendo assassinado ali mesmo. Os anões
foram abatidos antes que pudesse tomar muita distância de Doriath, sendo
o Nauglamír recuperado, no entanto dois dos assassinos de Thingol
conseguiram escapar e, mentindo que não teriam sido pagos por seu
trabalho, trouxeram de volta consigo um grande exército de Anões de
Nogrod.
Legolas e Gimli rumo as Terras Imortais, por Ted Nasmish |
Os Anões adentraram Doriath com facilidade e houve um banho de
sangue entre Elfos e Anões com grandes perdas de ambos lados e o rancor
desse fato jamais foi esquecido. Vitoriosos, os Anões retornavam para as
montanhas com grandes tesouros saqueados dos Elfos quando foram
surpreendidos pelo humano Beren que venceu os usurpadores e arrancou o
Nauglamír das mãos do próprio senhor de Nogrod, porém o rei anão
amaldiçoara todo o tesouro antes da morte acomete-lo. Assim, todas as
riquezas confiscadas foram jogadas ao rio Ascar, exceto pelo Colar dos
Anões que retornou aos Elfos. Devido a grande cobiça em torno da joia, a
meia-elfa Elwing atirou-se no mar com o Nauglamír. O vala Ulmo salvou
Elwing e a Silmaril, mas o colar perdeu-se no oceano para sempre sem que
seu fim terminasse com o conflito entre Elfos e Anões que somente
abrandou-se com esforços de Gimli e Legolas. Tanto é verdade que após a
Guerra do Anél, Gimli foi o único anão a ter permissão para viajar até
as Terras Imortais – onde somente os Elfos poderiam ir.felipeessy.com
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