sexta-feira, 20 de fevereiro de 2015


A Bruxa do Bosque; História  de
Anderson de Andrade

A história que vou contar a seguir se passou comigo durante o Caminho de Santiago, no ano de 1999 (Ano Santo Compostelano), específicamente no dia 22 de junho.

Vinha eu com um grupo de peregrinos, e já há alguns dias caminhávamos juntos.

Quando chegamos em Samos (pequena vila), fomos comer alguma coisa em um Bar, lá vi um cartaz que dizia que na próxima cidade, Sarria, haveria uma tourada daí dois dias, comentei com o grupo que ficaria na cidade para ver a tal tourada.

Por motivo religioso ou cultural, não aprovavam as touradas e decidiram seguir à diante.

Fiquei sozinho em um hotelzinho simples em Sarria, para ver a famosa tourada ou "corrida de toros" como os espanhóis a chamam.

Depois da tourada teria que caminhar até Portomarín sozinho, foi o que aconteceu, neste dia senti muita falta daquele grupo de peregrinos, e vi que caminhar sozinho também pode ser muito chato.

Cheguei em Portomarín à tarde, mas havia decidido que no outro dia bem cedinho, seria o primeiro a sair do albergue, para fazer dois dias de percusso em um, para poder conseguir alcançar o grupo de colegas peregrinos.

Fui o primeiro a ir dormir e também o primeiro a levantar, eram 5:30 da manhã, e o albergue todo ainda dormia, levantei sem fazer barulho, e às 5:45 já estava caminhando nas ruas de pedra de Portomarín.

Havia uma cerração no ar, para ajudar havia aquelas luzes amarelas dos postes que mal iluminavam os próprios postes, o que deixava o povoado com um clima de cidade fantasma.

Para quem fez o caminho sabe que, saindo de Portomarín, você atravessa um longa ponte sobre o Rio Miño, para depois entrar em um grande e fechado bosque.

Não eram 6:00 horas ainda quando entrei no bosque escuro e gelado, se na cidade a visão era limitada pela pouca luz, no bosque era um breu quase que total.

Conseguia enxergar o caminho até uns dois metros na minha frente e nada mais, o resto era só deduções.

Depois de uns 10 minutos dentro do bosque, a luz matutina resolveu dar o ar de sua graça, mas ainda assim, continuava um pouco escuro, por ser um bosque fechado, a luz pouco penetrava.

Quando que subitamente vejo entre às árvores uma velha senhora baixinha, não se tratava de peregrina, pois não levava mochila, tampouco camponesa, pois nada justificava sua permanência ali parada e sem ferramenta alguma.

Eu disse para a senhora: 

- Buenos Dias, Señora.
Mas ela nada respondeu, quando eu já estava uns 30 metros à diante, ela disse:
- Bueno camino, peregrino. ( que chegou a dar um pouco de eco dentro do gelado bosque ).

Não sei porquê, resolvi olhar para trás, não sei se era o escuro dentro do bosque e não se conseguia ver muita coisa, mas a velha senhora já não estava mais ali.



Quando cheguei no próximo albergue, comentei com um grupo de espanhóis o que tinha me acontecido, e eles me disseram que os Galegos chamam este bosque de "El bosque de la Meiga", e eu perguntei o que significava e eles disseram: - O bosque da bruxa.

Coincidência ou não esse fato se passou na Galícia, região onde viveram os Celtas, povos nômades, que se estabeleceram na Escócia, Irlanda e no noroeste da Espanha.

Os Celtas eram muito ligados com a força da natureza e com o poder da mente humana; O que chamamos de magia, era parte integral do seu sistema de crenças.

E para quem acredita, as Florestas Irlandesas e Escocesas, são os lugares onde vivem os duendes, druídas e agora as bruxas, e coisas desse gênero. caminhodesantiago.com.br

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